JAPÃO

“Depressa se vai a primavera
Choram os pássaros e há lágrimas,
Nos olhos dos peixes.” 
Haiku de Matsuo Bashô em “O Gosto Solitário do Orvalho”.




Já devem ir para lá de 25 anos que um quase estranho de passagem me ofereceu este pequeno livro de poesia japonesa. Comecei então a olhar aquele país e aquela civilização com outros olhos que não os que em jovem avidamente queriam ir viver para o Japão aprender a ser a “melhor gestora do mundo”. A depuração e a textura cristalina dos Haiku encantaram-me. Já o Zen e tudo o que lhe diz respeito me fascinavam: pintura, templos, jardins, cozinha, ikebana, o ritual do chá…aceitar a vida tal como ela se apresenta sem a necessidade de tentar explicar tudo, analisar, dissecar…uma filosofia ancestral que ainda hoje impregna aquela sociedade moderna “high tech” nos mais pequenos pormenores. Viver com menos gera mais fluidez, liberdade e leveza. Em tempo de dor e angústia para o Mundo e em particular para o povo nipónico aproveito este espaço para lhes agradecer. Pelo ideal, pelo credo, pela conduta e modo de vida. As mesmas convicções profundas que certamente agora os confortam quando tudo corre mal. Também pelo cinema de Ozu e Kurosawa, pelas descobertas de Masaru Emoto e pela Macrobiótica. Há muito aprendi que um simples bater de asas em Pequim podia provocar uma tempestade em Washington. Os autores da teoria do caos chamam-lhe Efeito Borboleta.  Percebo que a Terra é insignificantemente pequena e, que sim, o Japão, o Egipto, a Líbia, e tantos outros lugares onde não estou, também são a minha casa. As consequências ambientais, sociais, politicas, económicas desta catastrofe serão imensas. Cardumes de peixes pelo mundo já estão desorientados …um alerta…
Há dias vi o meu “estranho” numa estação de comboio… tive vontade de lhe agradecer por tão preciosa descoberta, esta dos Haiku… não o fiz, mas sorri-lhe interiormente.
“Esta Primavera na minha cabana
Absolutamente nada,
Absolutamente tudo.” 
Haiku de Kobayashi Issa.

Por Tereza Mizon